Formarias
por Maria do Carmo Nino

“(...) o que não é, o que não é ainda, o que é tudo, o que é nada o que não é mais.”
Jean Tardieu
O artista plástico Daniel Murgel é um inventor de lugares que atingem nossa existência humana apenas através de seu olhar subjetivo, onde a sua percepção daquilo que é da dimensão do natural e do artificial modifica aquela que temos destas noções no nosso embate cotidiano. O neologismo Formarias é uma alusão às derivações das formas reconhecidas que parcialmente compõem e estruturam o universo de natureza intrinsecamente fragmentária imaginado pelo artista, em que a noção histórica de paisagem se vê re-inscrita estética e poeticamente.Desta maneira, ele consegue que reconstruamos e reinterpretemos nossos encontros com as coisas comuns, modificando nossos pontos de vista, indo além do banal, perturbando alguns modos de reconhecimento que são baseados em categorias estéticas tradicionais, tornando inclusive aprazível e bem-humorada uma cena que seria apenas prosaica, sem graça, incompetente para conseguir vencer nossa indiferença. Esta concepção de paisagens reapresentadas quer sejam nos desenhos, como projetos ou abstrações no plano bidimensional, quer sejam concretamente no espaço tridimensional, consegue se impor em um mundo onde as solicitações de toda ordem se multiplicam para nós numa densidade que aumenta exponencialmente, e as questões abordadas não deixem de ser objeto de empreendimentos cada vez mais numerosos no contexto inclusive de várias outras linguagens artísticas como literatura e cinema. Indo de encontro à desertificação dos sentidos tão presente hoje, ao contribuir para a revelação do que há de singular e significativo neste diálogo da natureza x cultura, onipresente na história humana, ao mesmo tempo em que de modo obtuso nos falam à memória já constituída, esses lugares fundem-se em uma nova identidade, reinvestem-se para nós com uma inusitada emoção e uma nova personalidade, tornando-os referenciais de uma relação que sob a égide de Daniel se quer, não sem ironia, conciliatória, como alude o título da instalação, Sombra e água fresca, esta mesma pertencente à série “piscininhas: ambientes para convivência pacífica “.





sombra e água fresca
aquarela s/ papel
100 x 140 cm
2008
coleção Gilberto Chateaubriand







instalação
200 x 350 x 250 cm
coleção gilberto chateaubriand